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Educadores e especialistas refletem sobre o uso da inteligência artificial (IA) nas escolas

Educadores e especialistas refletem sobre o uso da inteligência artificial (IA) nas escolas

É consenso a necessidade de regulamentar e impor limites ao uso das ferramentas de IA, a fim de se preservar o pensamento crítico e a produção de ideias

Você entra em uma sala de aula e encontra alunos com os olhares focados em telas de computadores; no lugar do professor, há um robô interagindo com a turma. Em tempos de discussões sobre os limites da Inteligência Artificial (IA), imaginar esta cena pode gerar incômodo para muitos educadores. Se você é uma dessas pessoas, fique tranquilo, pois a Inteligência Artificial não vai substituir o professor. É preciso, no entanto, impor limites, discutir questões éticas e, acima de tudo, regulamentar o uso da IA em todas as áreas, incluindo a Educação.

A União Europeia aprovou, no dia 13 de março, uma legislação pioneira sobre o tema, que pode se tornar modelo e ditar o tom para a regulamentação do uso de IA nos países ocidentais. O Brasil ainda não tem uma lei específica, mas tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2338/2023, que deverá ser votado até o final de abril deste ano. A proposta visa criar um Marco Legal que estabeleça direitos para proteger os cidadãos e ferramentas de governança, operadas por instituições de fiscalização e supervisão de IA.

A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) lançou, no final de 2023, o Guia para o uso da IA na Educação. Além de alertar para a necessidade de regulamentação da política educacional dos países neste quesito, o documento evoca que o uso de novas tecnologias não perca o ser humano como objetivo central. A Unesco também menciona um limite de idade mínima de 13 anos para o uso de IA em sala de aula e pede a formação de professores sobre o tema. Para a diretora-geral da agência, Audrey Azoulay, a orientação “ajudará os formuladores de políticas e professores a melhor navegar pelo potencial da IA para o interesse primário dos alunos.” 

O blog Villas Boas conversou com alguns profissionais a fim de trazer reflexões sobre o tema. Para a psicopedagoga Mariana Freitas, a inteligência artificial está revolucionando tanto o aprendizado quanto a gestão educacional. “Ela permite a personalização do conteúdo educacional, analisa dados para melhorar métodos de ensino, automatiza tarefas administrativas e oferece suporte aos alunos por meio de assistentes virtuais. Na gestão, a IA otimiza processos, reduz custos e auxilia no desempenho dos alunos. Em resumo, a IA está transformando a educação, tornando-a mais personalizada, eficiente e acessível para todos”,opina.

Ética e responsabilidade

A especialista alerta, no entanto, que é preciso estar atento a algumas questões: “os limites entre o uso da IA como ferramenta de trabalho e para produção de conteúdo são definidos por questões éticas, precisão da informação, criatividade e contexto. É essencial garantir ética e responsabilidade, reconhecer os limites de precisão e qualidade da IA, valorizar a criatividade humana e contextualizar as informações geradas pela IA para assegurar sua relevância.”

Mariana adverte, ainda, que o uso excessivo da IA pode expor os estudantes a informações falsas, pois ela vai se alimentando de conteúdo baseado em dados fornecidos pelos usuários, o que pode levar à disseminação de desinformação. “Além disso, essa dependência pode comprometer suas habilidades de pensamento crítico e raciocínio, levando à perda da capacidade de analisar problemas de forma independente, já que podem confiar cegamente nas informações fornecidas pela IA sem questioná-las ou analisá-las adequadamente”, avalia.

IA na origem

E o que pensa quem produz Inteligência Artificial? Como ela pode ser usada com segurança na Educação? Quem nos traz essa resposta é o engenheiro eletrônico e de computação Eric Leite, que é Head Analytics e de Transformação Digital da empresa White Martins. Ele é mestre em Inteligência Artificial pela Coppe/UFRJ com mais de 15 anos de experiência profissional e acadêmica no desenvolvimento e implementação de soluções de IA e análise de dados. Na opinião do especialista, a inteligência artificial chega para mudar um modelo de ensino que seja centrado apenas na relação professor-aluno. Assim como a psicopedagoga Mariana Freitas, Eric tem uma visão otimista de que as ferramentas de IA podem revolucionar a Educação ao facilitar e personalizar o aprendizado e, indo mais além, desenvolver o pensamento crítico.

“Um ensino mais personalizado significa você entender quais são os gaps (lacunas) educacionais daquele aluno. Se ele não entende muito de matemática ou de uma matéria específica de matemática, o monitor virtual pode ensinar o aluno aquele conteúdo de uma maneira em que ele aprenda mais rápido. Então, você tem um plano de desenvolvimento mais personalizado para aquele aluno, que pode ser diferente para outro estudante que é muito bom em exatas, mas é ruim em geografia. Ele precisa de um plano de desenvolvimento mais específico para a geografia”, explica.

Eric diz que o professor também pode usar o ChatGPT, por exemplo, para fazer um brainstorm (chuva de ideias). “O que eu vou gerar de exercícios para facilitar o conhecimento do aluno? Isso é uma aplicação que o professor já pode fazer hoje”, informa.

O engenheiro alerta, no entanto, que há uma questão que está sendo muito discutida, em relação ao plágio. “Se o professor passa um exercício, o aluno joga no ChatGPT, o ChatGPT responde e o aluno simplesmente copia e cola, obviamente, está longe de ser ideal porque esse aluno não aprendeu nada. Então, a gente tem que ver o seguinte: como é que o professor consegue se adaptar a essa nova realidade, como ele pode estimular o pensamento crítico para evitar justamente esse tipo de problema, de o aluno copiar e colar ou pegar plágio da internet? Tem que mudar a forma como o professor ensina para estimular o pensamento crítico”, defende o especialista.

O pesquisador acrescenta: “é muito importante entender que a IA por si só é uma ferramenta que você tem que saber utilizá-la, saber fazer a perguntas certas, não é simplesmente usar por usar. É saber usar a IA da maneira correta, produzir um conteúdo, uma imagem para ilustrar uma aula; ou produzir textos que façam o aluno refletir sobre aquele ponto específico da matéria”.

Autonomia e protagonismo

Rodrigo Retka, que é coordenador geral de Ensino Fundamental Anos Finais e Ensino Médio do Colégio Curso Pensi, afirma que a escola trabalha com um projeto chamado Ecossistema de Aprendizagem Inovador (EAI), que é um conjunto de ferramentas tecnológicas que ajudam os jovens a desenvolver estudos autônomos.

“A gente tem, dentro desse escopo, as nossas disciplinas eletivas, inclusive, existe uma disciplina que fala sobre inteligência artificial, mas as ferramentas que a gente usa no EAI não são de inteligência artificial. A gente usa a tecnologia para diminuir as barreiras, mas a gente continua utilizando a mão de obra de pessoas para correção de redações e materiais complementares para os alunos que são produzidos pelos professores, disponibilizados através de nossas plataformas. Tudo acontece para criar um intercâmbio entre o conhecimento e o direcionamento para os alunos”, comenta.

Rodrigo explica que o colégio prepara o aluno para que tenha autonomia e protagonismo em suas ações. “Eu ofereço uma série de recursos de maneira online para esse aluno, incentivo que ele se aproprie daquelas ferramentas porque elas são importantes para ele e depois eu desenvolvo projetos dentro da escola, nos quais ele tem que aplicar de maneira criativa aquele conteúdo que consumiu online”.

O gestor complementa: “eu entendo que a informação hoje em dia é fácil de ser encontrada, mas é extremamente importante desenvolver o pensamento crítico em torno dessa informação e como essa informação pode se transformar em conhecimento. Então é todo um processo de a gente oferecer isso de maneira assíncrona, de maneira online para o aluno, mas depois resgatar de maneira presencial, síncrona com o professor em sala de aula para que aquele conteúdo ganhe um caráter crítico e se torne conhecimento para essa criança”.

Riscos e formas de prevenção

O especialista Eric Leite considera essencial discutir os riscos éticos e questões de governança. “Quais são as regras do jogo? O que pode e o que não pode? Tem lastro na lei penal? Tudo vem no arcabouço de governança, e aí o próprio Congresso Nacional está querendo votar isso. O governo da Europa está muito avançado, já passou o primeiro ato de governança sobre IA, definindo as regras básicas, o que pode e o que não pode”, pontua.

O mestre em IA destaca que outro cuidado importante é com relação à transparência. “Seja vídeo, texto, tudo que foi gerado por IA tem que ter uma transparência de que aquele conteúdo foi gerado por uma inteligência artificial. Tudo tem que ser regulado, tem que botar a regra do jogo”, diz, acrescentando que é necessário pensar, também, até onde você pode limitar a inteligência artificial sem correr o risco de frear as inovações.

Caminhos possíveis

Buscar atitudes responsáveis para lidar com inteligência artificial é a escolha mais adequada neste momento.

Rodrigo Retka conta que o colégio Pensi iniciou este ano uma série de projetos, atividades e interações com os alunos para falar sobre Cidadania Digital. “O que é ser um cidadão na internet, direitos e deveres, como a propagação das fake news funciona, como a gente pode construir uma internet melhor através das nossas ações e o que evitar dentro desse mundo para preservar a saúde mental. E é claro que a inteligência artificial entra no escopo desse projeto que se expandiu para toda a rede, para todos os nossos alunos”, diz.

O neuroeducador Fernando Lino lembra que “a tarefa de educar crianças e jovens sobre uma tecnologia que está em constante mudança pode ser árdua e cansativa. No entanto, a IA fará parte das nossas vidas, de uma maneira ou de outra. Sendo assim, o quanto antes arregaçarmos as mangas e começarmos a entender como educar para a sua utilização ética e moral é melhor. Eduquem-se sobre os benefícios e desafios da IA e orientem os alunos sobre seu uso responsável, ético e seguro”, conclui o especialista.

Por Tais Faccioli

 

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